Um som...

Ouço o som indiferente de um silêncio que se propaga na noite. Um som construído por algo que me é familiar. Não são carros, não é gente, não é um cão que perdeu o faro tentando encontrar o seu dono. Ouço um som de silêncio que incomoda o ouvido. Como um pequeno assobio que aumenta de intensidade cada vez que tento escutar o mundo lá fora. A janela aberta deixa passar uma brisa quente de Verão. Mas o som não vem de boleia com ela. Vem sozinho. Ignora a janela aberta e surge dentro da minha cabeça como se fosse o único sítio onde se consegue fazer ouvir. Assobia, de fininho, um ruído que não tento interpretar. Penso sempre que és tu que me assobias de um outro lugar. Fecho os olhos e inspiro a brisa seca que se passeia na minha pele, no meu cabelo. Imagino que és tu que me tentas tocar. Um desejo débil de quem sonha um dia te encontrar. Adormeço com esse som a embalar o meu pensamento. Com essa brisa a beijar o meu rosto. Finjo sorrir. Um sorriso que não consegues ver,mas que guardo para um dia te dar a conhecer.

Elsa Azevedo