É tudo tão diferente quando adormeço. Não sou eu. Somos mais. Não estou aqui. Estou em toda a parte. Posso ser quem quiser. Posso estar onde e com quem entender. Não sou eu. Sonhar... Todas as noites me levam sonhos estranhos. Estranhos, sim! Porque não sou eu. Canso-me, mas não sou eu. . Outros olhos espelham uma felicidade que deveria ser minha. Sou apenas uma mera espectadora dos meus próprios sonhos. Como se me debruçasse sobre uma janela que me mostra um mundo ao qual não tenho acesso. Não sou eu. São essas grades invisíveis que bloqueiam as minhas acções. Sonho com tudo e acabo por não sonhar com nada. Esgota-me a noite que me engole em sonhos impossíveis. Acordo e sei que não sou eu. Esse alguém que divaga na noite em busca de sonhos escondidos. Ao fim ao cabo, quem sou eu? Alguém que vive no limiar do sonho, ansiando ultrapassar essa janela que se cruza no caminho. Alguém que conheces e que insistes não querer conhecer. Alguém... É isso que sou. Não apenas eu, mas sim alguém que sonha e que insiste partilhar esses sonhos contigo. Não me conheces? Sou esse alguém que evitas cruzar o caminho, como se saber de mim te causasse uma dor que não consegues curar. Sou esse alguém que te procura dia e noite mas que apenas te encontra na sombra de um sonho impossível. Sou eu e mais ninguém. Quero que me guardes nesse sonho pois, na realidade, perdes-me sem que te apercebas da minha ausência.
Elsa Azevedo
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Imagens por: Pedro Pinheiro