Mar

18-11-2010 11:47

 

"Encontro-me junto ao mar, com os pés a sentir o toque suave das ondas que acariciam a areia. Não sinto dor nem tristeza. Apenas a saudade toma conta do meu coração, fazendo com que os meus olhos procurem um sinal da presença do Eduardo. Já me habituei a este estado de sonolência e sei exactamente o que ele me reserva. Caminho junto à maré, acompanhando a dança das ondas em movimentos calmos e pausados. Continuo a olhar em redor à procura da sua silhueta elegante. Quero encontrá-lo e ficar junto a ele. Esta distância que nos separa não é justa, não a aceito, e farei de tudo para que ela deixe de existir. Se realmente existe uma vida depois da morte, eu tenho o direito de a passar junto dele. Porque não existe vida se não estiver ao seu lado.

Aproximo-me das rochas que sacodem as ondas como se odiassem o seu toque. O barulho é ensurdecedor e provoca-me uma sensação de insegurança. Tento concentrar-me na falésia que está diante de mim e procuro a presença do Eduardo. Grito o seu nome tão alto quanto consigo, para ser imediatamente abafado pelo som das ondas que continuam a lutar contra as rochas. Concentro-me nas recordações que guardo dele. Fecho os olhos e imagino o seu sorriso, o seu olhar, as suas mãos a percorrerem a minha face num carinho suave.

Sem dar por isso, uma onda enfurecida pela tentativa frustada de ultrapassar a barreira criada pelas rochas, alcança o meu corpo paralisado pela recordação do toque do Eduardo e arrasta-me com ela para o mar. Em vez de lutar contra esta força que me afunda, deixo-me levar, sentindo toda a sua frustração a ser descarregada no meu corpo. Sinto-me a ser puxada para as profundezas gélidas, porém, continuo a sorrir ao imaginar o rosto do Eduardo. Os seus olhos a fixarem o meu rosto, as suas mãos a tocar a minha pele. Nem o frio da água é suficientemente forte para apagar esta chama que arde dentro de mim. O meu sentimento é superior a qualquer força da natureza. Continuarei a amá-lo, mesmo que nunca mais o encontre. Estas águas, nada mais têm para levar de mim. Apenas o meu corpo sem vida."

 

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"Sinto uma corrente fria a derrubar o meu corpo e a forçá-lo contra algo duro e áspero. Tento agarrar-me a alguma coisa mas as minhas mãos escorregam e não conseguem encontrar nada firme que consiga segurar o meu corpo. Numa tentativa de perceber onde estou, olho em redor e a única coisa que consigo distinguir no meio das ondas que me derrubam, é uma falésia enorme que se ergue à minha frente e me tapa toda a visibilidade. As ondas continuam a sacudir-me, atiram-me contra as rochas, as quais me recebem com um toque rude. Tento concentrar-me e luto contra este pesadelo que me é tão familiar. É como se soubesse que estou a viver um momento que não me pertence. Algo neste cenário me trás um terror arrepiante e me devolve memórias de um sonho que tento apagar. É estranho saber que estou a sonhar, e mesmo dentro deste sonho saber que outro sonho me atormenta. Será possível que isto possa acontecer? Só posso estar a ficar demente. Procuro encontrar a calma que há muito deixou de fazer parte do meu conjunto de capacidades psicológicas. Apesar de saber que isto tudo não passa de um pesadelo, sinto um pânico aflorar dentro do meu peito e começo a nadar. As ondas rebentam em cima de mim fazendo-me afundar. Cada vez que fico submersa sinto os meus pulmões a explodir com falta de oxigénio. A garganta arde-me e tento lutar para voltar à superfície. Mais umas braçadas desesperadas para tentar sair daqui. Mais uma onda que me derruba e me leva para o fundo. É inútil continuar a tentar. Por mais que nade, as ondas devolvem-me ao mesmo ponto de partida. Rezo para que tudo passe depressa, para que alguém me acorde.

 

Um desespero toma conta dos meus actos e desisto de tentar lutar contra a maré. Fico a flutuar. O meu corpo é atirado violentamente contra as rochas e sinto uma dor trespassar o meu peito. A dor é tão intensa que me tira a concentração para continuar a boiar. Deixo de ver o azul do mar e começo a ver tudo branco. Não sei se é a dor que é tão forte que me faz perder os sentidos, ou se sou eu a voltar para a realidade. Ignoro qualquer hipótese que não seja a de voltar para a realidade. Ver o rosto do Eduardo a sorrir é o suficiente para me dar forças para voltar. Fixo-me na sua imagem e deixo-me levar pela força da maré."

  

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   Imagens por: Pedro Pinheiro

 

 

 

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