Uma estrada coberta de pó arrasta-se pelo meio de serras despidas de cor. São vultos castanhos sem vida que esmorecem abrigados por raios de sol ardentes. A estrada atravessa-os sem parar, levando consigo pedras, buracos, restos mortos de uma vida que sucumbiu ao calor abrasador. Essa estrada segue destemida delineando um caminho há muito conhecido. Dá boleia a gentes vividas, que a seguem sem temer o pó árido que a preenche. Pisam-no, afastando as pedras que lhes tropeçam nos pés. É um pó com história porque é feito do tempo. As pessoas conhecem-no, como se fosse um retrato familiar que lhes recorda um pouco da vida que passou. Cada pedaço de terra conta uma história. É preciso contá-la para que permaneça viva. Como a estrada feita de pó sujo, que se entranha por toda a parte sem que se o consiga deter, também as histórias precisam ser entranhadas. Somos o vento que as espalha para que possam ser guardadas em mentes dispersas. Somos as estradas que deslizam com histórias vivas para contar. Para que um dia as serras possam conhecer quem lhes dê outra cor. Para que um dia esse pó possa suportar outros pés a caminhar sobre ele. Para que essa estrada continue a conduzir gentes pelas serras que se abrigam ao sol.
Elsa Azevedo
Elsa Azevedo
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Imagens por: Pedro Pinheiro