Escrever não chega...

Escrever não é suficiente

Não preenche o que me falta

Não me dá mimos ou um abraço

Não me ouve ou me responde

Não me aconchega ou afaga

Escrever não chega, pois não?!

Mas continuo a escrever

Para que me faça entender

Para que me dês um mimo

Para que ouças o que quero

Para que me aconchegues em ti

Escrevo e sei que me entendes

Mas isto não chega pois não?!

Porque quero sempre mais

E esse mais dissolve-se

Como gelo numa chama

Liquida a chama e morre

Quero mais e tudo desaparece

Faz-me lembrar o que não se esquece

Escrever assim não me preenche

O que me completa é viver

E contigo isso nunca irá acontecer.

Por isso grito, Escrever não chega!

Se me ouves, faz-te surdo por agora

Quero aproveitar a vida lá fora

Onde os sorrisos são de alegria

Onde se encontra alguma companhia

Onde não existem receios para amar

Onde tudo é tão simples como respirar.

Ser pensador e escrever o que se pensa

É pior do que tentar curar uma doença

Sofre-se com o que se pensa para escrever

Prolonga-se esse mal dando-o a conhecer

E o pior é que escrever não é suficiente

Preciso de algo um pouco mais experiente

Não apenas palavras cultas e sentimentais

Quero um pouco do que por aí se encontra cada vez mais.

Faz-te surdo por agora e deixa-me viver

Esquece as palavras que te dei a conhecer

Escrever não chega para preencher este vazio

Quero viver intensamente sem este lado sombrio.

Elsa Azevedo