09-12-2011 21:25
Era noite, e nela se perdiam os olhares infiéis. Era noite, e tudo se escondia sob a luz ténue de um candeeiro esquecido. Através dela, vislumbravam-se sombras alheias que se perdiam na calçada deserta. Movimentos sorrateiros, como gatos a esquivar-se de carros velozes, escapuliam-se por entre os becos negros das ruelas sem saída. Alguém ficou suspenso pelo bafo da noite. Alguém quis encontrar um pouco de companhia nessas ruas levadas pela escuridão. Atento aos passos desconfiados e hesitantes que se faziam ouvir, alguém parou para escutar a própria respiração. Um coração batia forte, receoso, inquieto. Era noite, e tudo se perdia em movimentos lentos e duvidosos. Ratos imundos espreitavam dos esgotos. Os seus olhos negros espelhavam o vazio da rua. Os narizes perscrutavam o ar pesado, poluído, em busca de restos deixados ao abandono. Orelhas peludas sondavam, minuciosas, o mais pequeno e insignificante som. Uma barata lançava-se da calçada, aterrando no alcatrão. Perdeu-se nos buracos deixados pela insistência do trânsito. Alguém olhou para o esgoto. Algo se moveu e desapareceu com precisão selvagem. O som dos passos iniciou a sua dança pela noite dentro, sendo levados pelo temor que engoliu a vontade de percorrer a cidade em busca de companhia. O sol não tardaria a despertar e o desejo de abraçar um corpo quente acabou por esmorecer. A solidão deu as mãos à noite e ambas se uniram rumo ao amanhecer.
Elsa Azevedo