O ser humano vive na orla do seu querer
Anseia conquistar um mundo feito de ilusões
Não são acasos que o levam a conseguir ver
Pedaços soltos, vazios, de pequenas ambições.
São ruas sem fim que se cruzam ao longe
Pés cansados caminham sem sentir o chão
Pisam pedras ásperas deixadas ainda hoje
Pelos que passam e são levados de arrastão.
Queria que um acaso muda-se estas ruas
Para que tantos pés caminhassem sem sofrer
Poderão hoje não ser nem minhas nem tuas
Mas continuarão inertes a ver-nos envelhecer.
Os dias avançam orgulhosos entre a multidão
Antecipam-se impiedosos à luz de um sopro
Não aguardam os passos lentos da civilização
Correm gananciosos para alcançar-nos no topo.
Acasos raros, débeis que sonham despertar
Aguardam-nos essas ruas bravias e agrestes
Sei que um dia um acaso as irá encontrar
Serão esculpidas, camufladas por outras vestes.
Elsa Azevedo
Elsa Azevedo
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Imagens por: Pedro Pinheiro